O diagnóstico de câncer nunca é um momento fácil e quando ocorre na infância é ainda pior. Nem sempre a criança sabe indicar quando algo não vai bem e, por isso, é importante dar atenção a cada sinal.
O que é retinoblastoma?
O retinoblastoma é um tipo raro de câncer intraocular que afeta, exclusivamente, crianças pequenas, com até 5 anos de idade. Ele está relacionado a imaturidade da retina e corresponde a 3% dos cânceres infantis, com cerca de 400 casos por ano.
Nesse caso, o tumor se desenvolve dentro do olho, mais especificamente, na retina, uma fina camada de tecido nervoso que reveste a região chamada de fundo do olho e é responsável por transformar o estímulo luminoso em estímulo nervoso e enviá-lo ao cérebro para formar a visão.
Quais são os tipos de retinoblastoma?
O retinoblastoma pode se apresentar de três formas:
- Unilateral – quando afeta somente um dos olhos. De 60% a 75% dos casos são deste tipo. Destes, cerca de 85% são esporádicos, ou seja, ocorrem quando uma célula sofre mutação e, a partir disso, começa a se multiplicar de forma descontrolada. O restante é hereditário, quando é herdado de um dos pais.
- Bilateral – acomete os dois olhos e, na maior parte dos casos, o fator hereditário é predominante.
- PNET (tumor neuroectodérmico primitivo) – também chamado de retinoblastoma trilateral, acontece quando um tumor associado atinge as células nervosas primitivas do cérebro. Neste caso, somente crianças com retinoblastoma hereditário bilateral são afetadas.
Qual a diferença entre retinoblastoma hereditário e não hereditário?
O retinoblastoma pode ser hereditário ou não, ou seja, nem sempre é herdado dos pais. Em casos positivos, ocorre uma mutação em um gene supressor de tumor, presente em todas as células do corpo. Já quando é esporádico, ou não hereditário, uma célula passa por uma mutação e, depois, inicia uma multiplicação descontrolada, dando origem ao câncer.
Em cerca de 25% dos casos, o tumor é bilateral e hereditário, enquanto 15% é unilateral e também hereditário. Já os 60% restantes são unilaterais e não hereditários.
Quais são as causas do retinoblastoma?
O desenvolvimento do retinoblastoma está relacionado, principalmente, ao fator genético. Ainda não foram identificados outros fatores de risco capazes de causar o aparecimento da doença.
Crianças que tiveram retinoblastoma têm 50% de chance de passar a condição para seus filhos, na fase adulta. Além disso, crianças com o tipo hereditário da doença têm mais chances de desenvolver outros tipos de câncer, que podem se aparecer até 30 anos depois. Por isso, é importante manter um acompanhamento médico durante toda a vida.
Quais são os sintomas do retinoblastoma?
Muitas vezes, os sintomas são pouco perceptíveis e, além disso, crianças nem sempre sabem indicar quando há algo de errado. Por isso, é fundamental estar atento a cada sinal fora do comum.
Entre os principais sintomas estão:
- Leucocoria, um reflexo esbranquiçado e opaco na pupila, popularmente conhecido como “olho de gato”. A principal forma de identificar este sintoma é a partir de fotografias feitas usando o flash, quando o reflexo vermelho dá lugar ao branco. Diante deste sintoma, o médico oftalmologista deve ser consultado imediatamente.
- Estrabismo, ou seja, falta de paralelismo entre os olhos, conhecido popularmente como “vesguice”.
- Redução da capacidade visual.
- Dor local.
- Aumento do tamanho do globo ocular.
Como é realizado o tratamento do retinoblastoma?
A escolha do tratamento mais adequado está relacionada ao tipo e estágio em que a doença se apresenta. Entre as intervenções disponíveis estão:
- Enucleação, remoção cirúrgica do olho.
- Fotocoagulação.
- Quimioterapia.
- Crioterapia.
- Radioterapia.
É possível, ainda, combinar os tratamentos, a fim de se obter o melhor resultado possível.
O objetivo principal é a remoção completa do tumor e, sempre que possível, preservar ao máximo a visão da criança. O ideal é que o tratamento seja realizado por uma equipe multidisciplinar, que inclua o oftalmologista, o pediatra e o oncologista.
Quais são as possíveis complicações do retinoblastoma?
Sem o tratamento adequado, o tumor tende a continuar crescendo e, a partir disso, pode haver complicações. Entre elas está a possibilidade de formação de tumores em outras partes do corpo.
Além disso, se o retinoblastoma bloquear os canais por onde circulam os líquidos no interior do olho, pode haver o aumento da pressão ocular e, consequentemente, o desenvolvimento do glaucoma, uma doença grave que ocorre quando o nervo óptico é danificado e pode levar à perda irreversível da visão.
Como é feito o diagnóstico do retinoblastoma?
Assim como na maior parte das doenças, o diagnóstico precoce é um fator de extrema importância. Quanto antes o retinoblastoma for identificado e tratado, maiores são as chances de cura.
O Teste do Olhinho é a melhor forma de diagnosticar uma série de doenças oculares no recém-nascido, incluindo o retinoblastoma. Ele deve ser realizado ainda na maternidade, logo após o nascimento, e repetido periodicamente até os 5 anos de idade.
Existem, ainda, outros exames que podem auxiliar o diagnóstico. São eles: ultrassonografia orbital, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Qual a importância do exame oftalmológico desde os primeiros meses de vida?
É muito comum que a primeira visita ao médico oftalmologista aconteça quando a criança atinge a idade escolar, mas, ao contrário do que muitos pensam, é importante que esse acompanhamento seja iniciado ainda nos primeiros meses de vida.
O primeiro exame oftalmológico realizado deve ser o Teste do Olhinho, ainda na maternidade. Através dele, é possível obter o diagnóstico de uma série de doenças congênitas, muitas delas capazes de causar cegueira, como o glaucoma congênito e a catarata congênita. Com ele, também é possível identificar o retinoblastoma ainda nos estágios iniciais e, por isso, é muito importante que seja repetido periodicamente.
O ideal é que toda criança passe por, ao menos, uma consulta com o médico oftalmologista por ano. Essa frequência pode ser aumentada caso seja identificada alguma alteração ocular.
Qual é a importância do Teste do Olhinho?
O teste do reflexo vermelho, ou Teste do Olhinho, faz parte dos exames que devem ser realizados logo após o nascimento, assim como o Teste do Pezinho e o Teste da Orelhinha. Ele permite que o diagnóstico seja realizado de forma precoce e, dessa forma, o tratamento seja iniciado cedo, fator fundamental para que se obtenha bons resultados e a visão de desenvolva corretamente.
O exame é rápido, indolor e dispensa a necessidade do uso de colírios. Nele, o olho é iluminado com um aparelho chamado de oftalmoscópio. Quando saudável, o reflexo dos olhos deve apresentar uma cor avermelhada. A coloração esbranquiçada indica a presença de alterações, que devem ser avaliadas e tratadas em seguida.
Retinoblastoma pode causar perda da visão?
Infelizmente, sim. Sem o tratamento adequado, o retinoblastoma pode causar a perda completa da visão e, em casos mais graves, a morte. Pode, ainda, causar baixa visão, quando ocorre uma perda significativa, mas não chega à cegueira.
Estrabismo pode ser um sinal de alerta para o retinoblastoma?
Sim. O estrabismo, popularmente conhecido como “vesguice”, é caracterizado pela falta de paralelismo entre os olhos, ou seja, quando cada olho aponta para uma direção diferente. Assim como o reflexo branco na pupila, este é um dos sintomas mais frequentes em casos de retinoblastoma.
O desvio dos olhos pouco frequente é comum até os 6 meses de idade. Ainda assim, deve ser observado com atenção. Após essa fase ou sendo muito frequente, é importante que um médico oftalmologista avalie o caso.
Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento do retinoblastoma?
O retinoblastoma, na maior parte dos casos, tem origem genética e, por isso, ainda não foram identificados fatores externos capazes de contribuir para o desenvolvimento da doença. Contudo, sabe-se que filhos de pais que tiveram retinoblastoma na infância têm mais chances de também ter o problema.
Qual a média de idade do diagnóstico de retinoblastoma?
A média de idade no momento do diagnóstico é de 2 anos. Mas lembre-se: é muito importante que o retinoblastoma seja identificado ainda nos estágios iniciais. Quanto mais cedo, melhor.
É verdade que fotos feitas com flash ajudam a identificar o retinoblastoma?
Sim. Você já notou que, em fotos feitas com flash, é possível observar um reflexo vermelho nos olhos? Este é um bom sinal e pode indicar uma retina saudável. Contudo, em casos de retinoblastoma, esse reflexo se apresenta em uma cor esbranquiçada, coloração que também pode ser notada na incidência de luz sobre os olhos. Este é um sinal que deve servir de alerta. Na presença dele, é importante consultar um médico oftalmologista imediatamente, pois, mesmo que não seja retinoblastoma, é um indício de que há algo de errado com o olho.
Recentemente, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), publicou uma série de esclarecimentos sobre o assunto. Confira um trecho:
1) O diagnóstico precoce desta forma de tumor, cuja origem está associada a fatores genéticos, é o melhor caminho para garantir seu tratamento adequado;
2) Neste sentido, o início dos cuidados começa ainda na maternidade, onde todo recém-nascido deve ser submetido ao Teste do Olhinho (teste do reflexo vermelho) até 72 horas de vida, sendo este o primeiro passo para a detecção de doenças oculares;
3) Após essa abordagem inicial, o Teste do Olhinho dever ser repetido pelo pediatra ao menos três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida da criança;
4) Na identificação de qualquer anormalidade, o paciente deve ser encaminhado para consulta com oftalmologista que aprofundará a investigação;
5) Para ampliar a proteção da saúde ocular das crianças, recomenda-se ainda que bebês de seis a 12 meses passem por um exame oftalmológico completo;
6) Posteriormente, entre três (idealmente) e cinco anos esse mesmo bebê deve ser submetido a uma segunda avaliação oftalmológica;
7) Estes exames oftalmológicos completos são fundamentais para detecção precoce de problemas oculares que afetam a saúde ocular da população pediátrica;
8) Em caso de confirmação de diagnóstico de retinoblastoma, a criança iniciará tratamento que depende de vários fatores (localização e o tamanho do tumor, disseminação além do olho e possibilidade de preservação da visão);
9) Na condução de casos de retinoblastoma podem ser adotados diferentes procedimentos, como quimioterapia (intravenosa, intra-arterial, periocular e intraocular), terapia focal e métodos cirúrgicos;
10) Para outras informações sobre o retinoblastoma, acesse o site da SBOP (https://sbop.com.br/retinoblastoma/).
O CBO e a SBOP fazem ainda outro alerta aos pais e responsáveis: em casos de doenças oculares confirmadas, confiem apenas nos cuidados oferecidos por médicos, em especial por oftalmologistas. Supostos tratamentos, como “self-healing” ou prática de exercícios oculares não têm comprovação científica. Portanto, eles não servem para curar o retinoblastoma ou qualquer outra doença que afeta o aparelho da visão (glaucoma, catarata, doenças retinianas, etc.).
Ao invés de conduzir à cura ou à melhora dos quadros clínicos, como sempre prometem, essas abordagens podem retardar o início de tratamentos corretos, aumentando as chances de comprometimento parcial ou total da visão e, em casos de tumores, até mesmo da vida do paciente.
Este material possui caráter informativo. Em caso de dúvidas, não hesite em consultar o médico oftalmologista!