O diabetes mellitus é uma doença crônica capaz de causar uma série de complicações. Sem o controle adequado, ela pode afetar rins, coração, nervos, pele, membros inferiores e, claro, os olhos, causando a retinopatia diabética. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de diabetes, existem cerca de 17 milhões de diabéticos só no Brasil, o que corresponde a 11% da população. E esse número pode ser ainda maior se considerarmos as pessoas que nem sabem que convivem com a doença, uma vez que ela pode se desenvolver de forma silenciosa, fator que dificulta o diagnóstico preciso.
Segundo o Atlas IDF (International Diabetes Federation), cerca de 2 milhões de mortes são atribuídas a complicações do diabetes, todos os anos. A doença pode ser associada a problemas como insuficiência renal, acidente vascular cerebral, amputação de membros e cegueira. A retinopatia diabética é uma das principais complicações. Ela é considerada a principal causa de perda da visão em pacientes em idade laboral, sendo responsável por 4,8% dos 37 milhões de casos de cegueira devido a doenças oculares em todo o mundo, isso corresponde a 1,8 milhão de pessoas.
Mas afinal, o que é a retinopatia diabética?
O diabetes pode causar inúmeras complicações em todo o corpo e a retinopatia diabética é uma delas. Ela ocorre, principalmente, quando não há o controle adequado da glicemia e as taxas de açúcar no sangue permanecem altas por longos períodos. Esse descontrole pode causar uma lesão nos vasos sanguíneos responsáveis por nutrir a retina, fazendo com que um material anormal seja depositado nos vasos da região chamada de fundo de olho. Isso causa o estreitamento e, em alguns casos, o bloqueio desses vasos. Além disso, também pode causar o enfraquecimento de suas paredes, fator que provoca a formação de deformidades conhecidas como microaneurismas, que frequentemente se rompem e causam uma espécie de hemorragia e consequente infiltração de gordura na retina, podendo causar seu descolamento.
Quais os tipos de retinopatia diabética?
A retinopatia diabética pode se apresentar em dois tipos:
- O primeiro, chamamos de retinopatia diabética não proliferativa. Este tipo corresponde à fase inicial da doença. Neste caso, pode ocorrer hemorragia e vazamento de líquido na retina, processo que pode causar o edema macular diabético.
- O segundo tipo é chamado de retinopatia diabética proliferativa. Neste caso, a doença se apresenta de forma mais severa e os riscos de perda da visão são maiores, pois há a formação de novos vasos sanguíneos, que são mais frágeis e podem se romper, causando o descolamento da retina.
Quais são os sintomas da retinopatia diabética?
A retinopatia diabética é uma doença que pode se desenvolver de forma silenciosa, especialmente nos estágios iniciais. Esse é um fator capaz de prejudicar a identificação precoce do problema e favorecer a presença de complicações e alterações relacionadas à visão. Em fases moderadas e avançadas, os sintomas mais comuns são:
- Perda da qualidade da visão;
- Moscas volantes (pequenas sombras que parecem flutuar no campo de visão)
- Manchas escuras no campo de visão;
- Perda da visão, que pode ser central ou periférica;
- Distorções visuais.
É muito importante que, diante das primeiras alterações visuais, um médico oftalmologista seja consultado para que o caso seja avaliado e tratado da forma correta, a fim de evitar o avanço da doença.
Quais são os fatores de risco relacionados ao desenvolvimento da retinopatia diabética?
O principal fator de risco relacionado ao desenvolvimento da doença é a presença do diabetes sem o controle adequado. É muito importante que, desde o diagnóstico do diabetes, sejam adotadas medidas e mudanças de hábitos para que a glicemia permaneça em níveis considerados normais e, dessa forma, seja possível prevenir complicações. Alimentação adequada, prática de atividades físicas, uso de medicamentos, quando prescritos, e acompanhamento médico e de outros profissionais de saúde são fundamentais para evitar maiores problemas.
Como o diagnóstico da retinopatia diabética é realizado?
O diagnóstico da retinopatia diabética pode ser realizado por meio de uma abrangente avaliação oftalmológica, que inclui o histórico do paciente e exames complementares.
Os testes mais frequentes para o diagnóstico da retinopatia diabética incluem:
OCT (tomografia de coerência óptica) – este exame é capaz de identificar alterações presentes na retina. Ele pode de fornecer medidas da espessura e de possíveis lesões, além de diagnosticar a presença e a gravidade de edemas na mácula.
Angiografia com fluoresceína – este é o exame que avalia a formação de vasos sanguíneos anormais, além da retina e da coroide, através de imagens obtidas com uma iluminação especial, na utilização de contraste.
Ultrassom – a ultrassonografia ocular é o exame capaz de avaliar as estruturas internas do olho e da cavidade orbitária. Através dele, é possível identificar a presença de hemorragias vítreas.
Todo exame deve ser realizado, sempre, pelo médico oftalmologista. Somente ele é capaz de identificar alterações capazes de afetar a visão e realizar o tratamento correto.
Qual é a importância do diagnóstico precoce da retinopatia diabética?
Cerca de 80% de todos os casos de cegueira do mundo poderiam ter sido evitados caso o diagnóstico precoce e o tratamento adequado tivessem sido realizados. Ele é parte fundamental da prevenção dos principais problemas que afetam a visão.
Identificar a retinopatia diabética o mais cedo possível é o caminho ideal para aumentar a chance de sucesso ainda nas fases iniciais, quando o tratamento é, na maioria dos casos, mais efetivo. No caso da retinopatia diabética, o diagnóstico precoce pode evitar a cegueira e, consequentemente, a redução da qualidade de vida.
Retinopatia diabética tem cura?
Infelizmente, a retinopatia diabética não tem cura. Contudo, a realização do tratamento é importante para que seja possível evitar a perda da visão.
Como é realizado o tratamento da retinopatia diabética?
O controle adequado das taxas de glicose no sangue é a melhor forma de evitar o avanço da retinopatia diabética, fator que reduz significativamente o risco de perda de visão em longo prazo. Apesar de não haver cura, o tratamento é capaz de aliviar alguns sintomas e retardar o avanço da doença e, consequentemente, a perda da visão.
O tratamento da retinopatia diabética depende da fase em que a doença se apresenta. Nos estágios iniciais, a monitorização regular com o médico oftalmologista pode ser suficiente, em alguns casos. Dessa forma, é possível acompanhar a evolução da doença. Em casos mais graves, o tratamento pode envolver:
- Cirurgia a laser ou fotocoagulação – indicada para os casos de retinopatia diabética proliferativa, o laser é aplicado nos novos vasos, de modo a cauterizá-los e reduzir o inchaço macular. Esse procedimento também impede a formação de mais vasos anormais.
- Cirurgia de vitrectomia – indicada para casos de hemorragia vítrea grave, a vitrectomia impede novas hemorragias, removendo os neovasos que causaram o sangramento.
Existe prevenção?
O controle adequado das taxas de açúcar no sangue é capaz de reduzir mais de 75% dos casos de retinopatia diabética. Aguardar que a visão seja comprometida para buscar o acompanhamento médico oftalmológico pode causar danos graves, incluindo a cegueira irreversível, além de decréscimo substancial na qualidade de vida. Dessa forma, é fundamental que todo paciente diabético realize o acompanhamento junto ao oftalmologista.
Além disso, tão importante quanto prevenir a retinopatia diabética é prevenir o diabetes mellitus, mais especificamente, o tipo 2 da doença, que é o mais comum e está relacionado a hábitos de vida. A melhor forma de prevenir a doença é praticando atividades físicas regularmente, mantendo uma alimentação saudável, com o consumo de frutas, verduras e redução do sal, açúcar e gorduras. Também é importante manter o peso sob controle, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e não fumar.
É possível reverter a perda da visão causada pela doença?
Infelizmente, não. Embora, em alguns casos, o tratamento possa promover uma melhora da qualidade da visão, a perda causada pela retinopatia diabética não pode ser revertida. Por isso, é tão importante que o acompanhamento médico oftalmológico seja realizado por todo paciente diabético.
Quais são as complicações da retinopatia diabética?
Entre as complicações mais comuns em casos de retinopatia diabética podemos destacar a hemorragia vítrea, o descolamento de retina e o glaucoma neovascular, além, claro, da cegueira.
Pacientes diabéticos devem manter o cuidado redobrado com a saúde dos olhos, pois as chances de se tornar cego são quase 30 vezes maiores, se comparado com quem não tem diabetes. Estima-se que cerca da metade das pessoas que convivem com o diabetes desenvolverão a retinopatia ao longo da vida. Além disso, é importante ressaltar que o risco de doenças oculares aumenta com o tempo: cerca de 2% das pessoas com diabetes tornam-se cegos, e cerca de 10% desenvolvem perda visual grave. Depois de 20 anos, estima-se que mais de 75% dos pacientes têm alguma forma de retinopatia diabética.
Todo paciente diabético deve realizar o acompanhamento junto ao médico oftalmologista?
Sim, é fundamental que todo paciente diabético realize o acompanhamento multiprofissional, que inclui endocrinologista, nutricionista, angiologista ou cirurgião vascular, dermatologista, nefrologista, cardiologista e oftalmologista. Dessa forma, é possível prevenir e diagnosticar precocemente possíveis complicações relacionadas à doença.
As informações apresentadas aqui possuem caráter informativo. Em caso de dúvidas, consulte seu médico oftalmologista!