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Você sabe o que é Ceratocone?

É muito provável que você nunca tenha ouvido falar sobre ceratocone. E, de fato, esse é um problema ocular menos popular do que outros, como a catarata, por exemplo. Apesar de ser considerada rara, ela é a principal causa de transplante de córnea e, sem o tratamento adequado, pode prejudicar a visão de forma significativa.

Mas, afinal, o que é o ceratocone?

Ceratocone é uma doença não inflamatória que afeta a estrutura da córnea. Sua origem é genética e possui um importante fator hereditário envolvido no desenvolvimento. De modo geral, sua progressão se dá de forma lenta, o que, muitas vezes, dificulta que o diagnóstico correto seja realizado.

De acordo com o Ministério da Saúde, a doença atinge cerca de 150 mil pessoas por ano em todo o Brasil. O ceratocone pode afetar os dois olhos, porém de forma assimétrica, ou seja, prejudicando mais um olho do que o outro.

A principal característica do ceratocone é a alteração da espessura e do formato da córnea, principalmente na região central. Ela se torna mais fina, ao passo que o meio é empurrado para fora, formando uma saliência que faz com que ela assuma o formato semelhante ao de um cone. Daí o nome.

Curiosidade: a palavra ceratocone é derivada da combinação de outras duas palavras: “kéras”, que significa córnea, e “cōnus”, que significa cone, ambas de origem grega. Ou seja: “córnea em forma de cone”.

Como a córnea é constituída?

A córnea é uma camada fina e transparente que recobre toda a frente do globo ocular. Ela funciona como uma espécie de lente sobre a íris (parte colorida do olho) e é responsável por direcionar e projetar a luz sobre a retina para formar a visão. Por isso é tão difícil enxergar com nitidez quando seu formato sofre qualquer tipo de alteração. Junto com a esclera, ela compõe a parte fibrosa do olho.

A córnea é formada por cinco camadas:

  • Epitélio, que auxilia na proteção do olho e na capacidade de regeneração.
  • Membrana de Bowman, que fica abaixo do epitélio e atua como uma espécie de barreira contra micro-organismos.
  • Estroma, que dá a espessura da córnea.
  • Membrana de Descernet, que também protege contra micro-organismos.
  • Endotélio, camada mais interna, responsável por manter a córnea hidratada.

Todas as camadas atuam em conjunto e em sincronia para proteger o olho e auxiliar na formação da visão.

Quais os sintomas do ceratocone?

Nem sempre o ceratocone dá sinais. Em alguns casos, a doença evolui de forma assintomática. Quando presentes, os sintomas variam de acordo com a fase em que a doença está.

A principal queixa em casos de ceratocone está relacionada à redução da acuidade visual. É comum que a visão se torne borrada e até mesmo distorcida, tanto para perto quanto para longe. Como consequência, surge a necessidade de trocar o grau dos óculos com maior frequência.

Outros sintomas que também podem surgir são:

  • Fotofobia (sensibilidade excessiva à luz, que dificulta a permanência em locais muito iluminados).
  • Dor de cabeça.
  • Dificuldade para enxergar durante a noite ou em ambientes com pouca luz.
  • Visão dupla, condição chamada de diplopia.
  • Halos ao redor de fontes de luz.

Na presença desses sintomas, é fundamental que um médico oftalmologista seja consultado.

Como é feito o diagnóstico do ceratocone?

O diagnóstico do ceratocone deve ser realizado pelo médico oftalmologista após a avaliação do histórico clínico do paciente e dos sintomas relacionados à redução da qualidade da visão.

A avaliação clínica pode incluir o exame de lâmpada de fenda, também chamado de biomicroscopia, cujo objetivo é analisar a estrutura do olho em detalhes, desde a córnea, até o nervo óptico, localizado na região conhecida como fundo de olho.

Também podem ser realizados outros exames complementares, como topografia computadorizada, que avalia a curvatura da córnea, além da tomografia computadorizada e da paquimetria corneana. Esses exames podem não só confirmar o diagnóstico, mas também avaliar o grau de comprometimento e a progressão da doença, para que, a partir dessas informações, seja possível definir o tratamento potencialmente mais eficaz.

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Quais os tratamentos para o ceratocone?

Existe uma série de opções de tratamentos contra o ceratocone. A escolha da medida mais adequada varia de acordo com o estágio que a doença se apresenta, após a avaliação do médico oftalmologista.

Nas fases iniciais, o uso de óculos costuma ser o suficiente para melhorar a qualidade da visão, pois a alteração do formato da córnea ainda é pouco acentuada. Ao passo que a doença avança, pode ser necessário substituir os óculos por lentes de contato que sejam capazes de auxiliar no ajuste da superfície da córnea, corrigindo o astigmatismo causado pela deformidade.

Felizmente, a Oftalmologia é uma especialidade que evolui muito. Por isso, novas opções de tratamento surgem de maneira frequente. É o caso do crosslinking, tratamento que representa um importante avanço no tratamento do ceratocone. Trata-se de um procedimento que tem por objetivo fortalecer o colágeno presente na córnea, de modo a retardar a velocidade em que a sua estrutura é comprometida. Nessa técnica, é aplicado um colírio à base de vitamina B2 (riboflavina), seguido pela aplicação de luz ultravioleta.

Outra opção é o anel intracorneano ou intraestromal, também chamado de anel de Ferrara. Seu objetivo é regularizar a curvatura da córnea. A indicação é mais frequente quando os óculos ou lentes de contato não são suficientes para corrigir a qualidade da visão.

Como dito anteriormente, o ceratocone é a principal causa de transplante de córnea. Ainda assim, a cirurgia só é indicada em casos mais graves, quando nenhum outro tratamento surtiu o efeito esperado. O procedimento consiste na substituição da córnea comprometida por uma saudável, vinda de um doador e disponibilizada em um banco de olhos.

Quais são os estágios do ceratocone?

O ceratocone pode ser dividido em quatro graus, de acordo com a gravidade em que se apresenta.

  • Grau 1 – Incipiente: a visão é boa e o erro refrativo tem pouco efeito sobre a visão.
  • Grau 2 – Moderado: os sintomas começam a surgir e há a necessidade do uso de óculos ou de lentes de contato.
  • Grau 3 – Alto: a visão já é bastante comprometida, sendo necessário realizar algum procedimento.
  • Grau 4 – Avançado: nesse caso, o ceratocone é considerado grave, com alto grau de comprometimento à visão. Aqui, o transplante de córnea se torna necessário.

É possível prevenir o ceratocone?

Devido ao caráter genético e hereditário, não existem medidas capazes de prevenir o ceratocone de forma direta. Contudo, em pessoas com histórico da doença na família, é possível adotar algumas medidas para auxiliar o controle da evolução da doença.

Por exemplo, sabe-se que o hábito de coçar os olhos com frequência pode aumentar as chances de desenvolvimento do ceratocone. Dessa forma, evitar coçar os olhos e tratar condições que provocam essa coceira, como rinite alérgica, alergia dermatológica e asma é uma boa forma de prevenir sua evolução.

O ceratocone pode causar cegueira?

Dificilmente o ceratocone evolui a ponto de causar cegueira. Ainda assim, se o tratamento correto não for realizado, a doença pode, sim, comprometer a visão de maneira significativa, afetando a qualidade de vida e dificultando a realização das tarefas diárias. Por isso, diante de qualquer alteração visual, é muito importante que o médico oftalmologista seja consultado.

Coçar os olhos contribui para o aparecimento do ceratocone?

Coçar ou esfregar os olhos com frequência não causa, exatamente, o aparecimento do ceratocone, haja vista que a doença possui um caráter genético envolvido. No entanto, o hábito afeta a estrutura da córnea e pode contribuir para a piora da deformidade, tornando o problema mais grave.

Em qual idade o aparecimento de ceratocone é mais comum?

Adolescentes e jovens adultos estão mais suscetíveis ao aparecimento do ceratocone. É bastante comum que a doença seja diagnosticada durante consultas de rotina na adolescência.

Muitos adolescentes nunca sequer foram ao médico oftalmologista. Realizar consultas regularmente durante essa fase é fundamental para que quaisquer problemas de visão sejam diagnosticados e tratados de maneira precoce.

Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento do ceratocone?

A genética é o principal fator de risco relacionado ao desenvolvimento do ceratocone. Isso significa que quem tem casos da doença na família tem mais chance de também ter o problema em alguma fase da vida.

Além disso, o hábito de coçar os olhos pode agravar o problema. Por isso, se o incômodo é frequente, é muito importante que um médico oftalmologista seja consultado para que as causas sejam identificadas e tratadas da forma correta.

Qual a importância do acompanhamento oftalmológico antes e após o diagnóstico da doença?

Não só no caso do ceratocone, mas em qualquer doença que afete os olhos, é de extrema importância que o acompanhamento junto ao médico oftalmologista seja realizado. Além da avaliação correta do caso, ele é o especialista que pode auxiliar na prevenção de complicações, até mesmo as permanentes, como em alguns casos de cegueira.

Ceratocone tem cura?

Infelizmente, o ceratocone não tem cura. Ainda assim, os tratamentos disponíveis atualmente são muito eficazes em deter o avanço da doença, prevenindo complicações e danos permanentes à visão. Mas, para isso, é importante consultar o médico oftalmologista, que é quem pode orientar corretamente nesses casos.

O ceratocone pode ser estabilizado com tratamento clínico?

Sim e esse é, justamente, o objetivo tanto do crosslinking quanto do anel intracorneano. O propósito é estabilizar a doença, de modo a deter seu avanço e prevenir a piora da qualidade da visão.

Quem tem ceratocone pode ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH)?

Desde 2020, o prazo de renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é de 10 anos para pessoas com menos de 50, de acordo com a Lei nº 14.071. Tanto para obter a CNH quanto para renovar, é necessário realizar a avaliação da visão junto a um médico oftalmologista.

De acordo com o a Resolução nº 425 do CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito, condutores da categoria A e B devem ter “visão central igual ou maior que 50% e visão periférica de 60º nos dois olhos; ou visão central de 66% e visão periférica de 120º no melhor olho”.

Por isso, a resposta é: depende. Depende do grau em que o ceratocone se apresenta e do comprometimento visual que a doença está causando. Em estágios iniciais, pode ser que, sim, seja possível dirigir.

Mas atenção: enxergar bem e segurança no trânsito caminham lado a lado. Assim, dirigir com a visão comprometida pode ser muito perigoso, tanto para você quanto para os demais condutores e pedestres. Não se arrisque!

Existem lentes de contato para quem tem ceratocone?

Dependendo do estágio em que o ceratocone está, os óculos podem não ser suficientes para melhorar a qualidade da visão. Nesses casos, o uso de lentes de contato pode ser recomendado. Vale ressaltar que as lentes não são capazes de tratar o ceratocone. Sua função é única e exclusivamente permitir que a pessoa enxergue melhor.

Existem diversos tipos de lentes de contato, mas as mais comumente utilizadas em casos de ceratocone são as rígidas gás-permeáveis. O problema é que nem sempre a adaptação é fácil. Por isso, é importante que o médico oftalmologista acompanhe o processo de adaptação.

Há, ainda, as lentes esclerais, que foram especialmente desenvolvidas para pessoas com alterações na córnea. Elas possuem o diâmetro maior e, como o nome indica, são apoiadas na esclera, parte branca do olho, e não na córnea como os demais tipos de lente.

Quem tem ceratocone pode se submeter à cirurgia refrativa?

Uma das características do ceratocone é o afinamento da espessura da córnea. Por esse motivo, a cirurgia não é indicada em alguns casos, pois o uso do laser pode fazer com que a córnea fique ainda mais fina, agravando o problema. Contudo, essa não é uma contraindicação absoluta e o mais importante é que cada caso seja avaliado individualmente.

O uso de telas (TV, computador e smartphone) promove o avanço da doença?

Não existem evidências que relacionem o uso de telas com a piora do ceratocone.

No entanto, façamos uma observação: a exposição excessiva pode contribuir para o ressecamento da superfície dos olhos, que, consequentemente, provoca coceira. Sendo o hábito de coçar os olhos um potencial agravante do ceratocone, vale evitar o uso em excesso de telas.

As informações apresentadas aqui possuem caráter exclusivamente informativo. Em caso de dúvidas ou na presença de sintomas, não hesite em consultar seu médico oftalmologista!

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